Denúncias de sucateamento dos Correios preocupam deputados

Parlamentares da Comissão de Participação Popular confirmam prejuízos no processo de terceirização dentro do órgão.

Funcionários temem que EBCT acabe sendo privatizada. Uma das questões abordadas é que o lucro das terceirizadas é muito maior que das agências próprias - Foto: Flávia Bernardo

O presidente da Comissão de Participação Popular da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), deputado Jean Freire, e o deputado Rogério Correia, ambos do PT, visitaram o Centro de Tratamento de Correspondências e Encomendas (CTCE) dos Correios, em Belo Horizonte, nesta quinta-feira (9/8/18), para verificar as condições de trabalho no local. Somente no CTCE, atuam hoje 728 funcionários próprios e 160 terceirizados.

Os parlamentares ouviram, mais uma vez, as queixas dos representantes do sindicato da categoria e confirmaram algumas das denúncias trazidas à Assembleia, durante audiência pública da mesma comissão, no último dia 7 de junho. As principais reclamações dizem respeito ao processo contínuo de terceirização e fechamento de agências próprias, o que confirmaria que o projeto do governo federal é mesmo de privatizar a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (EBCT).

Antes de percorrerem as instalações do centro, que é o maior do Estado, os deputados ouviram explicações do superintendente regional dos Correios em Minas Gerais, Juarez Pinheiro. Ele falou sobre os investimentos e o esforço da empresa para se manter competitiva no mercado, "apesar de a tecnologia estar mudando completamente o mundo das correspondências".

Já que as antigas cartas pessoais praticamente deixaram de existir, com a chegada do email e das redes sociais, os correios agora dependem, cada dia mais, das encomendas advindas do comércio eletrônico.

Para o deputado Rogério Correia, a visita só reforçou a ideia de que a entrega de correspondências e encomendas é um setor de comunicação vital e estratégico para o País, que deve permanecer com uma empresa nacional. "Sem dúvida, estamos apoiando a campanha nacional dos sindicatos contra a privatização dos Correios", afirmou.

Números - De acordo com o superientendente regional Juarez Pinheiro, os Correios têm hoje, em Minas, 936 agências próprias e 137 franqueadas; cerca de 10.500 funcionários próprios e pouco mais de 500 tercerizados.

Mas ele confirmou o que o presidente do Sindicato dos trabalhadores dos Correios, Robson Silva, tem destacado: proporcionalmente, o lucro das terceirizadas é muito maior do que das agências próprias. Se as agências próprias representam mais de 90% do total, no quesito arrecadação elas ficam com cerca de 50% apenas.

O deputado Doutor Jean Freire diz acreditar que o projeto do atual governo federal é mesmo privatizar tudo. No caso dos Correios, o prejuízo é visível, já que as franqueadas ficam com os maiores clientes e a parte lucrativa do negócio. "Para a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos fica a parte social, as entregas distantes e que não geram lucro", ponderou.

Robson Silva lembrou que os Correios são responsáveis, por exemplo, pelo cadastramento e recadastramento dos programas sociais do governo e também atuam diretamente no atendimento a situações de emergência, como no caso de enchentes e outras calamidades, já que estão presentres nos mais de 5 mil municípios brasileiros.

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Já na entrada do CTCE, que fica no Anel Rodoviário, na altura do bairro Universitário, os representantes do sindicato chamaram atenção para a altura da vegetação: o que antes era paisagismo e agora é "mato alto", como apontou Pedro Paulo Abreu. Segundo ele, a área externa, cuja limpeza poderia ser terceirizada, está totalmente abandonada.

"Enquanto isso, os serviços de tecnologia da informação, essenciais para a inteligência e a segurança da empresa, estão totalmente terceirizados há mais de 10 anos", disse o sindicalista.

No interior do complexo, os deputados ouviram reclamações dos próprios funcionários de que é muito comum a falta de água nos banheiros e bebedouros dos prédios. Um cano rompido teria deixado os trabalhadores sem água pra beber por vários dias. "Os terceirizados, obviamente, não querem reclamar. Mas constatamos mesmo a precarização do trabalho", afirmou o deputado Doutor Jean Freire.

Greve - O presidente da Comissão de Participação Popular, deputado Doutor Jean Freire, garantiu que a comissão vai continuar acompanhando a luta dos trabalhadores dos Correios. Existe um indicativo de greve da categoria, que tem assembleia geral marcada para o próximo dia 14 de agosto. Com informações da ALMG.

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