No dia da profissão, carteiros contam por que sua encomenda atrasa

Sobrecarga de trabalho, déficit de vagas e problemas estruturais fazem parte do rol de reclamações dos carteiros de Mato Grosso, profissão que comemora 355 anos nesta quinta-feira (25)

Quem nunca se irritou com aquela compra feita pela internet que demorou mais do que deveria para chegar? O carteiro, principal personagem deste dilema comum a muitos brasileiros, comemora 355 anos de institucionalização da profissão nesta quinta-feira (25).

Edilson Aparecido Cardoso, de 40 anos, é carteiro há 6 anos e diz que já se acostumou com a cobrança dos clientes que o abordam na rua. “O pessoal reclama sempre por atraso, mas eu só entrego o que chega até mim. É aí que eu explico que a culpa é menos nossa e mais da empresa”, explica ele.

Para Edilson e para muitos colegas, há pouco o que comemorar. Problemas como sobrecarga de trabalho, questões salariais e déficit de vagas estão no rol de reclamações destes trabalhadores. Estas deficiências têm afetado diretamente o cidadão comum.

Déficit de vagas
Edilson ingressou nos Correios em 2011. Desde então, nenhum concurso público foi realizado. Para o Sindicato dos Trabalhadores dos Correios e Telégrafos de Mato Grosso (Sintect-MT), a falta de concurso elevou o déficit de vagas no estado. Segundo dados do Sintect-MT, faltam 750 funcionários nos Correios. Desse total, 450 seriam carteiros.

Os trabalhadores dizem que este número também aumentou, principalmente depois que a autarquia lançou o Plano de Demissão Incentivada (PDI), em outubro de 2017. O programa planeja cortar até 5.000 trabalhadores em todo país e economizar em torno de R$ 54 milhões por mês.

O sindicalista Edimar Leite diz que há um processo de "precarização" dos Correios para prejudicar a imagem da autarquia junto à população

Efeitos do PDI

O ex-carteiro Silvio Bueno, de 63 anos, é um dos mato-grossenses que aderiram ao plano. Ele afirma que decidiu “não se sacrificar mais”, ao notar que poderia perder os benefícios que o atraíram para o Correios em 1997, ano em que ingressou na autarquia.

“Nós só não perdemos todos os direitos que adquirimos porque a gente lutou muito”, relata. Silvio deixou os Correios no ano passado, mas diz que não foi “justo” o acordo de rescisão realizado. “Eles fizeram algo que seria bom para a empresa, parcelaram o valor em 96 vezes, mas eu aderi porque não queria ficar me sacrificando”, conta.

O salário-base dos carteiros é de R$ 1.600, mas um dos principais atrativos da profissão é o plano de saúde com cobertura nacional, pelo qual o trabalhador paga somente 10% dos exames e consultas.

“O que segura o trabalhador não é o salário, são os benefícios, tanto o plano de saúde quanto o ticket-alimentação, que é de R$ 1 mil. Nós fizemos greve porque até isso eles queriam tirar”, conta Edimar Leite, presidente do Sintect-MT.

Os carteiros também têm aderido ao Plano de Demissão Incentivada por medo do futuro. Eles temem a perda de benefícios, com a precarização da empresa pública

Entrega alternada
O sistema de Distribuição Domiciliar Alternada (DDA) também causou polêmica entre os carteiros. Pelo novo método de entrega, cada carteiro é responsável por dois distritos postais e não um, como era antes.

Segundo o sindicato, o DDA faz com que um único carteiro entregue encomendas em até quatro bairros. A frequência das entregas diminuiu e a chance de encomendas e correspondências atrasarem se torna ainda maior.

“Isso aí prejudica a população, porque ela não recebe em dia e o trabalhador fica muito sobrecarregado, já que precisa cumprir metas. O cliente fica indignado, com toda razão, porque a correspondência dele não chega e acaba descontando no trabalhador.”, comenta Edimar.

Edimar diz que tudo isso faz parte de um processo de precarização para prejudicar a imagem dos Correios junto à população. "O mercado postal é lucrativo, tem empresa interessada nesse mercado e o Correios está no meio do caminho", resumiu ele.

Outro lado
A reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa dos Correios para confirmar ou contrapor as afirmações feitas pelos trabalhadores e pelo sindicato, mas até o momento não obteve resposta. As informações são do site O Livre.